Nada de Pouco Quando o Mundo é Meu...




......."Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. ........

...... Provavelmente a minha própria vida." (Clarice Lispctor) ........

06/11/2011

VENTO FORTE



Tudo estava mudado...
Sem sua permissão ou consentimento...
Um vento forte mudara tudo do lugar...
Não se pode lutar com a força dos ventos...
E foi um vento muito forte...
Devastador!!!
Varria tudo que via pela frente...
Tentou desesperadamente se agarrar a algo,
Mas tudo lhe escorregava pelas mãos...
E sem forças se deixou levar!
Parecia estar em queda livre...
Sendo arrastada pra muito longe de onde queria estar...
Estava tudo tão confuso... tão misturado...
Olhava a sua volta e parecia tudo novo...
E apesar dos ferimentos, sentia uma estranha felicidade...
A tempestade passou e não deixou nada no lugar...
Ou melhor quase nada...
Ele continuava lá...
Ocupando todo o espaço...
Porque por mais devastador que tenha sido o vento...
Seu coração continuava dentro do peito!

Cibele Sampaio

23/10/2011

ENTERRO


Gostava de guardar quinquilharias em caixas...
Lembranças de momentos felizes com pessoas especiais...
Guardanapos usados... enfeites de bebidas... cartões... desenhos feitos displicentemente... papel de bala... de bombons... pulseiras e colares quebrados... etc, etc, etc...
Guardava durante muito tempo, mesmo depois que a pessoa já tinha ido embora pra sempre...
Guardava até o momento em que outra tomaria o seu lugar...
Depois enterrava!
Estava feliz, porque uma nova caixa foi aberta...
Uma caixa ainda pequena, mas que podia em pouco tempo ficar enorme!
Precisava então se livrar da outra, precisava enterra-la...
Era a menor de todas as caixas que já enterrará... 
Pensou que seria fácil...
Mas não foi...
Cavou um buraco bem fundo e colocou a pequena caixa dentro...
Mas não conseguiu enterra-la...
Era como se ela estivesse incompleta...
E sem ter jogado nem um punhado de terra em cima, retirou ela do buraco...
Embrulhou a caixa em um veludo vermelho e guardou no lugar mais alto do armário...
Num lugar acima da caixa nova!
Esperando ser completada... quem sabe um dia!

Cibele Sampaio

16/08/2011

GRANDE

Sempre gostou das paixões intensas...

Dos sentimentos fortes, grandes, incontroláveis...

Vivia na beira do abismo por escolha...

E sempre sem pensar se jogava nele, de peito e olhos abertos!

Gostava de estar no meio das tempestades!

Pensava que só assim viveria com intensidade.

Mas descobriu prazer no afago de uma brisa leve...

Descanso no abraço de águas mansas...

Desejo no calor do por do sol!

De maneira intensamente calma...

Ele a fazia sentir-se GRANDE!


Cibele Sampaio

18/07/2011

SILÊNCIO

Ficou pensando nas coisas que nunca foram ditas...
A princípio por vergonha...
Em seguida por insegurança...
Depois por orgulho..
E por fim, por desesperança!
Agora sentia cada palavra presa em sua garganta...
Sufocando sua respiração.
Entupindo sua circulação...
Pensava como palavras tão bonitas podiam ser tão devastadoras quando nunca ditas...
Numa tentativa desesperada de se livrar delas, pegou um caderno e escreveu as três pequenas palavras dezenas, centenas, MILHARES DE VEZES!!!

Depois juntou tudo e fez uma enorme fogueira...
E enquanto olhava o fogo consumindo cada palavra...
Sem perceber, inspirava todas elas de volta, agora, milhares de vezes!


                                                                                          Cibele Sampaio


15/06/2011

LEVE

Carregou aquele corpo sem vida por tanto tempo...
Secretamente sempre soube que era um esforço inútil...
Sabia que aos poucos ele estava se decompondo...
Mas sempre se recusou a enterra-lo...
Pensava que se o enterrasse estaria enterrando a si própria!
Porém tudo parecia diferente agora...
Estava cansada...
Colocou o corpo em um belo jardim...
Gostou da ideia de que ele serviria de alimento para as flores...
Isso lhe trazia alento!
Então colheu flores...
E sem derramar se quer uma lágrima...
Seguiu em frente...

LEVE!!!
Cibele Sampaio

06/03/2011

INIVÍSIVEL


Sentia-se invisível...
Então sem saber muito bem pra onde se enfiou no meio da multidão...
Foi tão ignorada naquela roda que ficou com medo de deixar de existir...
Precisava desesperadamente de sorrisos, vozes, olhares...
Ficou perdida naquele mar de gente cantando, dançando, pulando...
Aumentou o passo empurrando quem estava em seu caminho...
E já estava quase correndo quando ele segurou seu braço...
Nem lembrava que ele estava lá...
Juntos sorriram, cantaram, dançaram...
A roda e a multidão deixaram de existir...
Só existia agora a música e aquele olhar interessado...
Quando tudo parecia perfeito...
De repente um beijo a fez enxergar sua condição...
Não era por ele que ela queria existir!
Correu de volta pra roda...
E voltou a ser invisível!!!
Cibele Sampaio